• “CÉUlestino” – O Artesão autodidata que entra no Céu e deixa um legado na Terra

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12 de fevereiro de 2015 por 

A região do Cariri é rico em manifestações artísticas, na mais pura cultura popular. É uma referência da criatividade do povo do Ceará. São diversas manifestações que deram o título de “Caldeirão Cultural” à região. Entre elas, Juazeiro do Norte desponta na produção de objetos artesanais feitos em argila, barro e madeira.

O Centro Cultural Mestre Noza foi fundado em 1983 com objetivo de difundir a arte do sertão caririense e incentivar os artistas locais. Dentre os quase 125 artesões do Centro, um deles se destacou pela produção singular de mamulengos e aptos eróticos. José Celestino da Silva, o Zé Celestino, tornou-se referência com seus traços marcantes, ousados e “de uma preciosidade impressionante”, conforme relata a Historiadora e Professora da Universidade Federal do Cariri, Adriana Botelho.

Nascido em 1955, Celestino faleceu antes de completar sua sexta década de vida. Sua morte evidencia uma lacuna na arte cultura da região. Para os companheiros de trabalho, Zé deixa “um legado imensurável”. O presidente da Associação de Artesãos do Juazeiro do Norte, Beto Soares, lembra os quase 25 anos ao lado do “amigo sempre sorridente”.

 

“Zé [Celestino] esteve aqui no Centro Cultural  desde o início e quatro anos mais tarde eu cheguei. Foram 26 anos de convivência e aprendizado diário. Cada artesão tem seu traço particular, mas é difícil conviver com Celestino e não beber de sua obra. Ele era único e desconheço alguém que hoje faça o trabalho que ele desenvolvia”, relata Beto.

Francisco Gilberto, outro artesão que conviveu por mais de 20 anos com Celestino, ressalta que além de tudo, “o amigo era um escultor autodidata sempre disposto a ajudar os novatos”. Filho e neto de artesões, Zé começou bem jovem a esculpir apitos de pio para atrair pássaros. Mais tarde, os apitos se tornariam a maior marca do artista.

Outra característica que o tornaram único, foi a preocupação em retratar cenas sociais, questionadoras da realidade nordestina, como as greves e a reforma agrária. “As peças deles eram vendidas em todas as regiões do Brasil e do Mundo. Inclusive, uma pessoa dos Estados Unidos encomendou uma greve, ele conseguiu finalizar, mas ainda não foi entregue”, detalhe Beto.

A entrevista com o presidente da Associação foi interrompida por alguns minutos para que ele atendesse uma ligação da cidade de São Paulo, capital. Ao voltar, Beto, “orgulhoso” – conforme ele mesmo descreveu o momento – confidencia o teor da ligação.

“Parece até que foi combinado. Enquanto eu lhe falava sobre os trabalhos do Mestre Celestino que eram vendidas para todo o país, uma cliente ligou encomendando uma obra. O sucesso e reconhecimento do Centro Cultural muito se deve ao Celestino”, finaliza emocionado.

 

Serviço

Centro de Cultura Popular Mestre Noza
Endereço: Rua São Luís, s/n, Juazeiro do Norte, Ceará, Brasil
Número de telefone: (88) 3511-3133

 

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