• Tradição e Perpetuação: Banda Cabaçal de Jardim completa 85 anos de História

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13 de setembro de 2021 por 

Por: Acácio, Lucas, Jocilane, Larissa Maria, Josué e Joyce;

Apesar de também ser conhecida como “Banda de Couro”, “Banda de Pífano” e “Esquenta Mulher”, Banda Cabaçal continua sendo o termo mais popular no Cariri Cearense.

Essas bandas, que tem por tradição representarem da forma mais rústica a cultura do cariri Cearense, são compostas por homens de diversas idades que utilizam instrumentos como o Pífano e a Zabumba. O nome vem da matéria prima original dos objetos de percussão, a Cabaça.

Apesar de terem diferentes origens e traços particulares únicos, as bandas dessa denominação apresentam traços em comum, tais como a grande presença do movimento corporal no espetáculo, a forte característica de se apresentar em locais abertos e a predominância da sonoridade dos instrumentos musicais em detrimento da voz, que, quando aparece é pouco utilizada.

Foto: Elisângela Santos.

A banda Cabaçal mais conhecida é, sem sombra de dúvidas, a dos Irmãos Aniceto. Contando com mais de 200 anos de existência, a banda foi declarada como parte do Patrimônio Imemorial da Cultura do Crato, em 2015.

Banda Cabaçal Serra da Boa Vista completa 85 Anos

Completando 85 (oitenta e cinco) anos de história, a Banda Cabaçal Serra da Boa Vista, localizada em Jardim-CE, é a banda popular mais antiga da cidade. O mestre Seu Miguel Lima é uma figura de significação cultural relevante para a cidade, tendo em vista a sua atuação no cumprimento em levar a cultura Cabaçal adiante.

Luiz Lemos, atual Secretário de Cultura, Turismo e Esporte da cidade, nos atenta para um possível “extinção” da Banda por falta de recursos. Porém, felizmente, nos últimos anos a Prefeitura Municipal em parceria com a Secretaria de Cultura arrecadaram fundos para o restabelecimento deste movimento cultural, doando instrumentos novos e sempre tendo a presença da Banda Cabaçal em eventos promovidos pelas instituições da cidade.

Luiz ainda adverte para outra presença de Banda Cabaçal da cidade, localizada no Sítio Corrente. Esta, versa ele, “é mais recente, porém já está construindo sua história”, nos exemplificando que a história da cidade de Jardim é algo para se apreciar e aplaudir de pé, pois são histórias como essas que “revivem a cultura”.

A muito ainda o que se tratar sobre esse repertório cultural e musical que é a Banda Cabaçal da Serra Boa Vista. Em tempos ardilosos como esses a banda ainda resiste, seja como música ou documento imaterial. Para Luiz Lemos, é importante darmos “visibilidade para grupos históricos”, já que a cultura está sendo tão defasada, atualmente. 85 (oitenta e cinco) anos são memórias que não sessam, tampouco se extinguem.

Outras Bandas Cabaçais

Banda Cabaçal Santa Edwiges
Foto: Secretária de Cultura do Ceará

Atualmente, no Cariri, a banda Cabaçal Santa Edwiges é composta por crianças, adolescentes, mulheres, idosos e quem sentir interesse de aprender poderá entrar nela. A banda é composta, originalmente, por cinco tocadores, mas alguns também participam de forma voluntária somando aos músicos. A banda tem apoio cultural do Serviço Social do Comércio (SESC) e da Secretaria de Cultura de Juazeiro do Norte (SECULT) .
A banda já realizou diversas participações, “em renovações, festas religiosas de Santos nas Igrejas, no Sesc e outros eventos particulares”, conta o mestre Leandro da banda Cabaçal Santa Edwiges.

Créditos: Selo do Mundo Melhor. Site de sociedade e cultura.

Construção e História: Os elementos das Bandas Cabaçais

De importante utensílio rotineiro dos povos indígenas ao maior item de percussão sonora, as “cabaças”, são as principais matérias primas da fabricação desses instrumentos. Historicamente, os instrumentos cabaçais eram feitos pensando nos festejos locais, como as manifestações religiosas, e, principalmente, nas comemorações de algumas aldeias de índios caririense. O xequerê, o afoxê e o axatse são os principais instrumentos derivados dessa matéria prima, mas, o enfoque dessa reportagem é tratar da musicalidade trazida pelas zabumbas, caixas, pratos de metal e flautas transversais originadas dos pífaros: o tradicionalismo regional passado de geração a geração das Bandas Cabaçais. 

Influenciado pelos índios do Cariri, principalmente pelo uso de instrumentos de caráter indígena, as bandas cabaçais se popularizaram através de gerações e hoje faz parte do Patrimônio Imemorial Cultural de algumas regiões originárias, a exemplo, as cidades do Jardim, Juazeiro do Norte e Crato, este último contendo um dos mais famosos e antigos conjuntos, a Banda Cabaçal Irmãos Aniceto, fundada há mais de 200 anos por índios do Cariri Cearense. Os elementos visuais que compõem as apresentações das Bandas Cabaçais se concentram desde os instrumentos musicais confeccionados pelos próprios músicos até as coreografias ensaiadas e bem executadas, mantendo, novamente, o tradicionalismo. 

A sonoridade trazida pelas Bandas Cabaçais é construída através das madeiras de aroeira para os instrumentos de percussão, como as caixas e zabumbas, e dos pífaros, para os instrumentos de sopro, como as famosas flautas transversais. Para a confecção das flautas, em específico, era muito comum a utilização da “taboca” e da “taquara“. É importante ressaltar que, historicamente, a fabricação de flautas advindo dessas duas matérias primas eram frequentemente usadas para cerimônias culturais e religiosas. Posteriormente, a popularização desse instrumento obteve outro alcance regional: a entrada no gênero Forró.

Essa ancestralidade foi mantida na memória e hoje é um dos instrumentos mais “icônicos” das representações das Bandas Cabaçais. Ademais, um dos poucos – provavelmente um dos únicos – instrumentos que não são confeccionados pelos componentes das Bandas são os pratos, visto que o uso desse instrumento obteve referências externas fora do meio cultural Cabaçal e consequentemente das aldeias indígenas do Cariri. 

Trajes únicos, com cores vibrantes, chapéus típicos do sertanejo e alpargatas de couro. Essa é a descrição dos figurinos de apresentação de algumas Bandas Cabaçais mais tradicionais. Os ritmos mais tocados e frequentes nas representações dessas bandas são as músicas populares e mais regionais, como o baião, advindo do pé de serra popularizado nas redondezas do Pernambuco e Ceará. Ou seja, as canções apresentadas detém uma afetividade para um determinado povo. A exemplo, temos a Banda Cabaçal do Mestre Expedito, atuante em Juazeiro do Norte com a bênção do Padre Cícero, que mistura música religiosa e carnavalesca com a simbologia presente do Reisado.

As coreografias rítmicas são improvisadas pelos componentes da Banda e, como mencionado anteriormente, se assemelham a ritmos e estilos influenciados por outras culturas, mesmo sendo originária dos índios caririenses.

A Perpetuação das Bandas Cabaçais no cenário atual

Modernidade anda lado a lado com o tradicionalismo? O ciclo de gerações que ajudam a dar continuidade à cultura das Bandas Cabaçais ultrapassam o regionalismo centralizado na Região do Crajubar. A exemplo, o grupo formado por: Michel Vincent Sampaio, Carlos Vasconcelos, Welen dias, Yago da Silva, Janderson Freitas, Joel Araújo e o Professor Coordenador do Projeto, Bruno Goulart, da UniLab em Redenção, desenvolveram a criação de uma Banda Cabaçal. Carlos Vasconcelos, juntamente com Edson, iniciou um projeto de extensão chamado “Cria do Mundo: Banda Cabaçal Palmares”. 

O Edson aprendeu a fazer os pífaros de PVC e aí ele me passou esse conhecimento […] Nós conseguimos a bolsa para ser projeto de extensão e começamos a dar oficinas na Universidade de produção de pífaro e sobre a cultura da banda cabaçal como um todo. Só que as oficinas de pífaro elas acabaram por ficar mais prudentes para começarmos a dar primeiro um pouco de aula sobre teoria musical, sobre como tocar, era pra tentar facilitar um pouco mais futuramente quem começasse a aprender a construir as pífaras. E que as pessoas que participaram dessas oficinas, que se destacavam mais, que mostraram interesse em participar da banda, ela foram ingressando no grupo, e a partir disso nós conseguimos criar um grupo com seis, sete integrantes, por aí….  

Para conseguir manter a cultura e a Banda Cabaçal Palmares viva, o projeto precisava continuar recebendo apoio financeiro de alguma entidade ou até mesmo da própria Universidade. Segundo Carlos, houve alguns problemas em relação à Pró-Reitoria da Instituição em que estuda e, infelizmente, o grupo chegou a perder o apoio.

Quem ainda dava um certo apoio era o técnico da Proex, que de vez em quando conseguia algumas apresentações pra gente, mas passamos um ano sem apoio financeiro de nenhuma forma da Universidade. Só tocando em alguns eventos e às vezes ganhando algum cachê, mas raramente a gente conseguia algum cachê, os ensaios a gente fazia na praça. Assim, começou né?! […]. Paramos de ensaiar na Universidade, e começamos a ensaiar na praça e a gente percebeu que nosso lugar de tocar mesmo era na rua, era o momento assim que a gente tinha uma relação mais próxima com a comunidade de Redenção, que é a cidade onde a Universidade se encontra.

Ademais, Carlos compartilha a informação que, atualmente, o projeto conseguiu passar em um edital, assim, possibilitando a compra de novos materiais para agregar e ajudar na produção de oficinas para jovens e adultos, seguindo as normas de prevenção contra a COVID-19.

As vezes tem apresentações pra Fortaleza ou pra qualquer lugar que seja que for mais longe, tem algumas pessoas da Proex que conseguem transporte pra gente. Antes da pandemia nós vivíamos tocando em Fortaleza, Canoa Quebrada… acho que a única região que nós ainda não fomos tocar foi aí na região do Cariri. Mas já chegamos a tocar com os Irmãos Aniceto na Bienal Internacional do Livro, essa última que teve, então a gente sempre tá na ativa, sabe?. 

Encontro de gerações: Banda Aniceto e Banda Cabaçal Palmares
Foto: Instagram / Banda Cabaçal

Assim como mencionado anteriormente, a geração mais nova que continua o trabalho das Bandas Cabaçais, seguem os mesmos padrões normalizados pelos antigos Mestres regentes. As referências, os estilos rítmicos e até mesmo o modo de apresentação são trazidas para o contexto atual. 

O que a gente busca fazer é se espelhar nos mestres que nos inspiram, que são os Irmãos Aniceto […]. O que a gente faz é se espelhar nessa formação, nessa prática de cultura e ir colocando… fazendo ela a nossa cara. Os Irmãos Aniceto eles só tocam realmente músicas cabaçais, improvisadas na hora muitas vezes. Já nós não, a gente tem como nosso principal meio de ação cultural o meio cabaçal, mas a gente também toca xote, toca chorinho, música de quadrilha, mas sempre com aquela pegada meio cabaçal, sabe. Então, é livre, é uma arte livre assim, mas que a gente sempre tenta não fugir muito da prática cultural mesmo pra de certa forma tornar ela mais acessível também, mas no fato de que nunca se torne algo… como é que eu posso falar, ultrapassado… não, algo imutável. Porque a arte ela tem disso né, ela tá o tempo todo se transformando, e isso vai de cada artista, cada artista faz a sua arte de forma que passe suas características, sua personalidade, e a gente faz isso também.

O público presente nas apresentações da Banda Cabaçal Palmares varia entre crianças e adultos. Historicamente, a cultura Cabaçal era – e ainda é – passada de pai para filho, desde a confecção dos instrumentos até a inserção nos grupos musicais. Em atos abertos para o público, a variação e o choque de gerações é ainda mais perceptível. 

Já nos apresentamos para crianças, que inclusive é o meu público preferido porque são mais animados, que brincam, dançam… geralmente o público que mais brinca com a gente são as crianças, é um público assim maravilhoso […]. Porque a gente gosta de tocar e tá no meio da bagunça, a gente não gosta daquela separação palco-público, sabe. Pra gente, quanto mais a gente estiver no meio do público, melhor. Já teve apresentações que nós fizemos na praça em que a gente dançava quadrilha enquanto tocava. Em Fortaleza tocamos no Cine Teatro São Luiz, que o público era adolescentes, ou então pessoas mais adultas que estavam saindo do almoço, ou saindo do trabalho e passavam lá, ficavam assistindo, dançavam […]. ou Festival de Teatro a gente sempre toca na rua, então sempre tá misturado, é criança, gente mais de idade, adulto. E é geralmente o que a gente gosta, é de fazer uma roda na rua e começar a tocar no meio do pessoal, então é um público misto, nunca é assim um único público, sabe?!. 

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