• Cofre vazio e muita conta para pagar

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4 de agosto de 2015 por 

Em tempos de economia fragilizada, ter controle dos gastos e conhecimento dos direitos é fundamental para não cair nas armadilhas do consumo e evitar mais crise.

Quem passa pelo centro de Juazeiro do Norte está ciente que não sairá de lá de mãos abanando. Panfletos que prometem visualizar o futuro; orçamento grátis para o aparelho ortodôntico; promoções e ofertas a perder de vista. Os consumidores em potencial sem dúvida têm suas expectativas plenamente atendidas com a maior oferta de crédito e as facilidades de compra, e muitos o fazem sem qualquer questionamento.

O estudante Mateus Gomes, 24 anos, por exemplo, se empolgou com as vantagens que o cartão de crédito oferecia e chegava a utilizá-lo até para coisas simples como o lanche da tarde. Ele não sabia que estava utilizando as linhas de crédito mais caras do mercado, o que resultou na contração de dívidas excessivas e consequentemente levou seu nome à inclusão na lista de inadimplentes, além de uma série de constrangimentos que passaram a fazer parte da sua vida depois de receber ligações que o tratavam como irresponsável e outros nomes nada educados.

O caso do estudante ajuda a ilustrar um fenômeno bem maior. Em 2013, o Ceará foi elevado ao posto de terceiro maior Estado do Nordeste com número de consumidores inadimplentes, de acordo com o indicador mensal de inadimplência, calculado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Nos dados chamam atenção a falta de planejamento financeiro, as compras por impulso, excesso de parcelamento e uso de linhas de crédito de forma impulsiva e descontrolada, além do desconhecimento dos direitos e da legislação que protege e defende das armadilhas do consumo que fazem os bolsos sangrarem ainda mais.

Para remendar isso, a estudante do curso de Administração da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Clarissa Barros, que ministra palestras sobre gestão financeira para empresas e é estudiosa sobre o assunto, explica que é preciso antes de tudo auto-avaliação e objetivo. “Tem que saber o que quer. A maior dica para as pessoas saírem do endividamento é descobrir o que quer”. O querer na maioria das vezes extrapola a razão ou a necessidade, no calor da emoção o consumidor só agrega mais itens a seu carrinho para satisfazer cada vez mais seu papel dentro da sociedade capitalista.

NA PONTA DO LÁPIS E NO PAPEL

Durante o planejamento na hora de por ordem as contas, Barros diz que é fundamental o inadimplente priorizar as dívidas, colocando-as na ponta do papel e começar a diminuir os custos de vida. Também acrescenta que a primeira coisa a ser feita é o choque de realidade para poder identificar excessos e cortá-los. Outro ponto ressaltado é a necessidade de fazer um levantamento para ver as possibilidades de pagamento. “Às vezes compensa vender algum objeto e começar do zero”, afirma.

Sobre os benefícios de manter o orçamento organizado, a estudante de Administração recomenda objetividade e planejamento. Objetivos a curto, médio e longo prazo. Saber o que se quer para daqui a seis meses, um ano ou cinco anos. A professora Maria do Socorro sabe disso. Tanto que já adiantou cinco parcelas da pós-graduação, comprou um celular moderno e agora pretende reformar a casa da família. Tudo feito na ponta do lápis e registrado num caderno.

Com a organização financeira como aliada, um consumidor evita surpresas no fim do mês, planeja os desejos dentro de sua limitação salarial e fica fora dos cadastros de pessoas inadimplentes.

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NECESSIDADE QUE NÃO EXISTE

Em apenas três meses, o custo de vida no país consumiu quase toda a meta perseguida pelo Banco Central para o ano, de 4,5%. Os dados foram medidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

O pressuposto básico para responder a esse número alarmante está ligado talvez ao fato de que diante das escolhas que envolvem dinheiro, a consciência não tem lá muita prevalência, e o apelo racional para que se desista de alguma vontade é pouco eficaz.

O professor e coordenador do curso de Filosofia da UFCA, Marcius Lopes, alerta para a necessidade de questionar se aquilo que se considera importante foi suscitado de dentro, das questões pessoais, ou foi injetado de fora, e reforça que as escolhas devem ser regidas com relação às expectativas que se tem com a vida, mas alerta que até mesmo as escolhas que parecem emergir de dentro, podem não ser.

https://soundcloud.com/hrob-1/marcius-lopes-professor-e-coordenador-do-curso-de-filosofia-da-ufca

A ESCOLHA TROUXE PROBLEMAS. E AGORA?

Constantemente as pessoas estão consumindo freneticamente, as ofertas e promoções aparecem aos montes. Só que grande parte dessas pessoas desconhece seus direitos de consumidor e a legislação que os protege e defende das armadilhas do consumo. Em tempos de economia fragilizada, conhecer os direitos é uma forma de exercer a cidadania e elevar a qualidade dos produtos, dos serviços e do mercado. E órgãos públicos como o Procon (no Estado do Ceará recebe outro nome Decon) podem ajudar a lutar pelos direitos.

direitos

A promotora e coordenadora do Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor, o Decon, Efigênia Coelho Cruz, explica que as funções da entidade abarcam as reclamações que dizem respeito às ofensas aos direitos coletivos do consumidor, aqueles que atingem alguém em particular e simultaneamente a todos.

Para entender melhor os direitos coletivos, veja alguns exemplos:

  • Direito dos consumidores de receberem serviços de boa qualidade das prestadoras de serviços públicos essenciais, como de telefonia, de abastecimento de água e de energia elétrica;
  • Direito dos técnicos de raio-x de receber adicional de insalubridade;
  • Direito dos alunos das faculdades particulares de receberem serviços educacionais de qualidade.

O Decon é vinculado ao Ministério Público de Ceará e atua no âmbito jurídico, com audiências de conciliações, e administrativo para ressarcir os consumidores. Os casos que geram mais reclamações são produtos que apresentam defeitos e compras premiadas. A coordenadora ressalta que os aposentados, sobretudo, analfabetos que adquirem empréstimos junto aos bancos sem qualquer tipo de orientação, são um público que recorre com frequência ao Decon. Ela avalia que o consumidor já possui conhecimento mediano sobre direitos individuais e sabe reclamar, mas falta crescer em união e consciência coletiva.

Ranking

O Programa recebe diariamente reclamações coletivas. O serviço é feito de graça, de segunda a sexta-feira, das 8h às 14h, mas para ter acesso ao atendimento é preciso madrugar. São distribuídas apenas dez senhas por dia. As reclamações recebidas são de ordem coletiva, aquelas que exigem um maior número de pessoas atingidas e prejudicadas.

Se a reclamação for individual o consumidor deve procurar o Núcleo de Práticas Jurídicas, onde funciona o Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), a organização do poder público que aplica a legislação e cuida de assuntos entre consumidor e empresas vendedoras de bens e serviços. Para saber se seu nome está negativado, o consumidor deve procurar a Câmara de Dirigentes Logísticas, CDL, em qualquer cidade.

 

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