Por Thamyres de Souza
As salas de aula são comumente o primeiro local associado à educação. Porém o modelo hierárquico em que são construídas é responsável por criar barreiras de aprendizagem ao supor que o conhecimento está limitado àqueles que ficam à frente da sala, sendo pouco estimulante para a criatividade dos alunos.
Surge daí a importância de outras áreas da universidade periodicamente desenvolverem atividades que busquem proporcionar formas descentralizadas de conhecimento e debate. Isto acontece com os alunos de design da Universidade Federal do Cariri, que se reúnem semanalmente para compartilhar saberes sobre bordado. Uma prática que despertou o interesse neles, mas que tiveram pouco acesso na matriz curricular do curso. Em reuniões não formais, tanto em espaços ao ar livre, quanto em salas de professoras que apoiam a iniciativa dos alunos, eles leem textos sobre o assunto, praticam juntos e aqueles que sabem algo a mais ensinam a quem estiver disposto a aprender.
Na universidade, por ser um ambiente também de formação social, torna-se essencial que espaços não formais sejam ocupados pela comunidade acadêmica. Além de descentralizar a posse do saber, a ocupação destes espaços criam estímulos importantes. Para o neurocientista Michael Posner, em entrevista ao portal Desafios da Educação, o cérebro deve ser estimulado com novidades. “O cérebro gosta de novidades, que produzem o estado de alerta necessário para a concentração e influenciam na orientação neural. Porém, como a novidade captura a atenção do estudante, mas não a sustenta, esses acessórios devem ser trocados periodicamente”, explica.
“Acho o ambiente de sala de aula, muito privado, muito fechado, quando a gente tem a oportunidade de fazer alguma coisa em outros espaços, como ali na grama, é muito mais legal, a criatividade flui de uma forma diferente.” afirma o aluno Jefferson Grossi, bolsista do Programa de Aprendizagem Cooperativa em Célula Estudantil (PACE), que é um dos desenvolvedores do grupo de bordado.
Assim entendendo que o conhecimento existe para além das ementas das disciplinas, as experiências que fogem do que se compreende como essencial para a formação de determinado profissional podem vir a ser importantes. A universidade forma para muito além das exigências do mercado. As vezes um hobby que encontra no espaço acadêmico a oportunidade de se desenvolver pode se tornar algo que a pessoa vai fazer durante a vida inteira, como exemplifica Jefferson.
Outra importante forma de aprendizagem informal é desenvolvida pelo Centro Acadêmico Xico Sá, do curso de Jornalismo da UFCA. Constantemente o CA propõe reuniões e debates abertos para toda a comunidade acadêmica, nas quais pautam temáticas pertinentes para a construção política e social de seus participantes.
Lara Alencar, coordenadora de organização interna do CA afirma: “a função do CA é justamente essa, unir as demandas estudantis a temas que estão acontecendo na sociedade. Sair um pouco da sala de aula e ter um espaço alternativo para rodas de conversa, discussões que a sala de aula traz, mas as vezes não abrange todos os temas que estão sendo pautados na sociedade.”
Desse modo, o espaço universitário mostra-se como uma extensão da sociedade, especialmente ao se tratar de uma instituição federal. Torna-se um local político, onde “corpos diversos têm esse poder de se juntar e debater certos assuntos, proporcionando uma troca entre pessoas que possuem realidades diferentes e ao mesmo tempo semelhantes”, como diz Lara.
O saber não reside apenas em textos densos e debates à porta fechada, experiências de aproximação formal e pessoal são equivalentes em importância, e no contexto universitário trocas afetivas podem transmitir conhecimentos com menor rigidez e propiciar que a criatividade se expanda em ambientes mais leves.