Foto: Margaridas do Cariri
Por Bárbara de Alencar
De quatro em quatro anos, desde o ano 2000, acontece a Marcha das Margaridas. Trata-se da maior mobilização de mulheres da América Latina, cujo propósito é buscar visibilidade, reconhecimento social, político e cidadania plena para as mulheres de todo o Brasil. “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência” foi o tema da Marcha de 2019.
A referência às Margaridas deve-se à homenagem à Margarida Maria Alves, brutalmente assassinada no dia 12 de agosto de 1983, no município de Alagoa Grande, Paraíba. Seu nome se tornou um símbolo nacional, e assim, diversas mulheres se juntam, em Brasília, para marchar juntas pelos seus direitos e por reconhecimento.
Organizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), o evento aconteceu nos dias 13 e 14 de agosto e contou com um número recorde de mulheres: cerca de 100 mil, de acordo com as organizadoras. Manifestantes de todos os estados brasileiros compareceram. Ao conversar com Francisca Franci de Oliveira, coordenadora regional da FETRAECE do Cariri, foram para marcha, em Brasília, 157 mulheres do Cariri, “conseguimos fechar 5 ônibus, mais um saindo de Iguatu”.
“Eu estou desde a primeira marcha, e essa já é a sexta. Aprendi muito nesses anos, principalmente a ter autonomia, e nós precisamos de autonomia. Compreendi o valor de ser mulher e lutar pelo reconhecimento como mulher rural dentro da marcha; quando está faltando um ano para a marcha acontecer, começamos a estudar e nos mobilizar, então não é apenas ir, e sim todo o conhecimento por trás”, afirma Franci.
Foram inúmeras conquistas através da mobilização de mulheres na marcha, dentre elas, titulação obrigatória no nome das mulheres e dos homens, validade da Declaração do Sindicato como prova plena para comprovação da atividade rural, elaboração Plano Integrado de Vigilância em Saúde, em especial para as populações que se encontram expostas aos agrotóxicos, entre outras. Desde o início, a marcha sempre trouxe um caráter de denúncia contra a fome, mistério, violência sexista, a favor da democracia e contra a retirada dos direitos.
Histórias e lutas de mulheres caririenses
Pensando na importância de eventos e mobilizações como essa, é necessário a divulgação para ganhar forças. No Cariri existe uma revista alternativa escrita e produzida por mulheres, a Revista Bárbaras, criada por estudantes do curso de jornalismo da Universidade Federal do Cariri (UFCA) com a intenção de dar visibilidades às mulheres da região, teve sua segunda edição lançada no último dia 16 de agosto, na praça Siqueira Campos, Crato. Na primeira edição a matéria de abertura contou com o texto “ Margaridas vão à luta” que conta o relato de três trabalhadoras, três margaridas de extrema relevância no movimento sindical.
Durante o lançamento, ficou evidente a importância dessas mulheres terem vez e voz dentro da sociedade. Vivian Martins, capa da segunda edição afirma: “Participar da revista fez parte do meu processo de autoconhecimento quanto mulher negra e me possibilitou me enxergar de outra forma; foi um marco muito importante da minha vida. Ao ter repórteres femininas, escritoras femininas, ilustradoras femininas, fotógrafas femininas gera ainda mais força para nossa resistência. Além disso, considero muito relevante a forma como a revista foi escrita, pois, se existe uma maneira da informação ser passada de forma simples, assim ela deve ser feita.”.
Erika Gonçalo, leitora assídua da revista, relatou que se identifica bastante com a revista pela proximidade das personagens retratadas. “É muito inspirador especialmente pelos índices de violência da nossa região. Ver tantas mulheres juntas resistindo, mesmo sem estarem diretamente envolvidas com o movimento feminista é muito lindo.”, afirma Erika.
O lançamento ter sido feito em praça pública gera uma proximidade entre a comunidade acadêmica e o público geral. Nayane Rodrigues e Daiane Andrade estavam indo em direção à Praça da Sé e como já tinham ouvido falar da revista pararam e resolveram ver o final do evento. “Chama muita atenção de quem tá indo e voltando, você sente curiosidade de ver o que ta acontecendo e acaba se identificando com o que está sendo retratado”, declara Nayane.