Mesmo com esforços apontados pelas gestões municipais, estudantes com deficiência ainda enfrentam barreiras na educação pública no Cariri. Dados do Censo da Educação Básica revelam que algumas escolas municipais ainda não possuem a acessibilidade necessária para garantir a inclusão de todos e de todas.
Por Eduarda Cavalcanti, Érika Pessoa e Letícia Salviano
3493 mil estudantes com necessidades especiais estão matriculados nas escolas da rede pública municipal de Barbalha e Juazeiro do Norte. Somado ao Crato, são 5455 estudantes com necessidades especiais nas três cidades mais populosas do Cariri. Mesmo com número recorde de matrículas, o censo da educação básica apresenta falhas em acessibilidade em 18 escolas municipais de Juazeiro do Norte e XX de Barbalha.
“Quando você cria barreiras para que uma criança com deficiência tenha acesso à educação, você limita o seu potencial de aprendizagem”. A fala de Maria José, diretora da escola Carolina Sobreira, localizada no bairro Tiradentes, em Juazeiro do Norte, revela a sensibilidade da gestora com os 56 estudantes que necessitam de Atendimento Educacional Especializado (AEE). É o maior número entre as escolas públicas municipais. Mesmo assim, de acordo com o Censo da Educação Básica, a Carolina Sobreira está entre as 18 escolas da rede municipal de ensino com falhas em acessibilidade.
No contexto escolar, a acessibilidade vai além de rampas e banheiros adaptados. Ela engloba a adaptação de materiais didáticos, a utilização de tecnologias personalizadas e a formação de professores para atender às diversas necessidades dos estudantes. “O pátio, por exemplo, deveria ser um espaço de socialização, mas a infraestrutura atual impede que muitas crianças com deficiência participem das atividades”, explica Francisca Aparecida, professora da Carolina Sobreira.
Embora algumas escolas já tenham implementado melhorias, como rampas de acesso e espaços adaptados, algumas ainda carecem com a falta dessas adaptações essenciais. Maria José destacou que a escola passou por uma reforma com o objetivo de readequar sua estrutura para atender adequadamente às necessidades dos estudantes com deficiência. No entanto, mesmo com as melhorias, ela enfatizou a necessidade de ‘aparatos pedagógicos’, que são recursos e materiais educativos essenciais para garantir a inclusão.
De acordo com a professora Francisca Aparecida, no caso da escola Carolina Sobreira, além dos problemas estruturais, a falta de cuidadores é um desafios que afeta a acessibilidade de estudantes que necessitam de atenção individualizada, como aqueles com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Entre esses aparatos, estão tecnologias assistivas, como computadores adaptados, livros em braille e audiobooks. Segundo Maria José, essas ferramentas não são benéficas apenas para os alunos, mas também para os professores, que encontram nelas meios de adaptar seus métodos de ensino às diferentes necessidades dos estudantes.
Em Barbalha, estudantes surdos da rede pública municipal aprendem LIBRAS
A educação bilíngue para surdos ainda enfrenta diversos desafios, segundo Bruno Coelho, intérprete de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) . Mesmo com alguns recursos adaptados, a falta de formação dos professores em LIBRAS dificulta a inclusão dos alunos surdos. Além disso, o material didático utilizado nas salas de aula raramente é adaptado para atender às necessidades específicas dos estudantes surdos. “Se caso houver a necessidade de uma adaptação, o professor da sala de aula regular, ele na maioria das vezes não faz essa adaptação. Então, eu, como intérprete de Libras, preciso me virar para adequar essa atividade para que o aluno surdo entenda”, explica Bruno.
Para Bruno, a formação dos professores em LIBRAS é fundamental para que a comunicação entre professor e aluno seja mais fluida e natural. Ele também defende que a oferta de cursos de LIBRAS para todos os professores, pelo menos até o nível intermediário, seria um grande avanço.
Ao dominar a Língua Brasileira de Sinais, os professores estariam capazes de se comunicar diretamente com seus alunos surdos. Essa comunicação direta, segundo Bruno, é importante para promover a inclusão e garantir que todos os alunos se sintam parte integrante do ambiente escolar. O intérprete destaca a importância de situações cotidianas, como pedir para ir ao banheiro ou beber água, como momentos em que a comunicação direta entre professor e aluno surdo faz toda a diferença.

A linha do tempo da educação inclusiva no Brasil
A luta por uma educação inclusiva é um processo contínuo que vem transformando a realidade de milhares de estudantes com deficiência no Brasil. A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, que garantiu o direito à educação para todos, diversas leis e políticas públicas (confira na linha do tempo) ajudaram a incluir mais pessoas com deficiência em serviços e espaços educacionais.
