Monitoramento de queimadas via satélite contribuiu para redução de queimadas na Floresta Nacional do Araripe em 2024

  • Postado em 14 de janeiro de 2025
Área desmatada pelo fogo no maior incêndio de 2024, no município do Crato.

Mesmo com a redução no número de focos de queimadas, que foi de aproximadamente 34% em dois anos, cerca de 5 hectares da floresta foram devastados pelo fogo.

Por Antônio Ferreira, Everton Bruno e Suelem Albuquerque

Entre setembro e outubro de 2024, a área foi atingida por focos de incêndio que destruíram cerca de 150 hectares de área interna e externa. O fogo foi combatido durante mais de 10 dias pelas equipes do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBIO), corpo de bombeiros, brigada de incêndio e helicóptero da CIOPAER. Cerca de 40 pessoas ajudaram a combater o fogo. A área mais devastada localiza-se na cidade de Crato.

O gerente do ICMBIO, Carlos Augusto, afirma que a área afetada entre os dias 29 de setembro e 31 de outubro de 2024, equivale a 63 hectares, o equivalente  a 60 campos de futebol. O incêndio provocou graves prejuízos ao ecossistema local, particularmente para o soldadinho-do-araripe, uma espécie endêmica e ameaçada de desaparecimento. A perda de seu habitat coloca em risco a existência da ave, além de impactar várias outras espécies em risco.

O incêndio também causa a diminuição da biodiversidade, deterioração do solo, intensificação da erosão e mudanças climáticas na área, afetando negativamente tanto a vida animal quanto as comunidades que dependem da floresta.

Como ferramenta de combate aos incêndios Floresta Nacional do Araripe, o monitoramento via satélite tem se mostrado uma ferramenta essencial. Ele permite a detecção precoce e o acompanhamento em tempo real das áreas afetadas.

Monitoramento contribuiu para diminuição do desmatamento em 2024

Com o uso de imagens e dados geoespaciais, é possível identificar focos de calor e avaliar a magnitude dos danos, orientando as equipes de combate de forma mais precisa. Além disso, a tecnologia facilita a análise de padrões de desmatamento e incêndios, contribuindo para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e resposta mais eficazes. Esse recurso se torna crucial na proteção de ecossistemas como a Floresta Nacional do Araripe.

O fogo que atingiu parte da chapada foi detectado via satélites pelos focos de calor e localizados com ajuda de Global Positioning System (GPS), um sistema de localização, comprovando que três unidades de conservação foram impactadas, principalmente o refúgio de vida silvestre do Soldadinho do Araripe, ave nativa da região, a Área de Proteção Ambiental (APA) e a Floresta Nacional do Araripe (FLONA).

Para o gerente do ICMBio, o monitoramento via satélite foi importante para o combate às chamas. Com mais detalhes, ele  informa que de uma forma geral entre os anos de 2023 até agora, em 2024, o somatório total mostra que a FLONA sofreu a perda de 5 hectares, a concentração maior fica nas regiões em torno dela, com 23 hectares atingidos pelas queimadas.

Helicóptero sobrevoa área da Floresta do Araripe despejando água sobre as árvores cobertas por fumaça
A área mais afetada foi o sopé da serra, no Crato. Cinco hectares da morada do Soldadinho do Araripe, espécie endêmica da Floresta Nacional do Araripe, queimaram desde 2023. Foto: ICMBio-Crato

Em um parâmetro geral, os números obtidos pelo painel de monitoramento  do Instituto Nacional de Pesquisas e Estatísticas (INPE) mostram que o Ceará, em sua totalidade, registra uma redução no número de queimadas entre os anos de 2023 e 2024. Conforme o gráfico abaixo, há uma redução de aproximadamente 34% no número de focos entre os dois anos. Com foco no Cariri, o sistema BDQUEIMADAS, mostra que Floresta Nacional do Araripe (FLONA) registrou um número alarmante de focos de incêndio entre janeiro e dezembro de 2024. Santana do Cariri lidera o ranking com 73 ocorrências, seguida por Crato, com 43 focos. Missão Velha registrou 50 incêndios, enquanto Barbalha e Jardim contabilizaram 19 e 13, respectivamente.

Estudantes da UFCA desenvolvem painel de monitoramento de queimadas na web

Com intuito de auxiliar no combate aos focos de incêndios como este, estudantes do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Universidade Federal do Cariri (UFCA) desenvolveram um projeto para denúncia e acompanhamento de focos de incêndio na região por meio de um dashboard, uma visualização em site que mostra os locais onde há uma maior concentração de calor, o que pode indicar a possibilidade de um incêndio.

Prof. Fabrício Freitas (de jaqueta marrom, à esquerda) junto a estudantes responsáveis pelo desenvolvimento do monitor de queimadas do Cariri. Foto: Acervo pessoal de Fabrício Freitas.

O coordenador do projeto, prof. Fabrício Freitas, explica que a plataforma utiliza dados do INPE para levar a essa visualização gráfica que consta os alertas e também existe a possibilidade de enviar outras ocorrências junto de fotos ou vídeos. “O objetivo é monitorar e prevenir queimadas na região do Cariri, esse projeto contribui para a preservação ambiental e segurança das comunidades locais, esses impactos podem trazer redução de queimadas, a preservação dos biomas (caatinga) e desenvolvimento sustentável, bem como, conta com a participação da comunidade da região”, explicou o professor.

Após o recebimento dos possíveis focos de incêndio, estes serão verificados pela equipe responsável pelo projeto, uma ação que não é realizada pelo INPE. Essa abordagem permite que as autoridades locais do Cariri ajam de forma mais rápida e eficaz no combate às queimadas.