Por Mychelle Santos
No dia 10 de setembro é celebrado o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. A data está dentro do calendário do “Setembro Amarelo”, mês dedicado para campanhas e ações voltadas à prevenção do suicídio e à visibilidade do tema. Historicamente, o tema é estigmatizado e tratado como tabu na sociedade. A campanha pretende enfatizar que é necessário falar, conscientizar e discutir o assunto, para que o suicídio possa ser visto como um problema a ser evitado.
Segundo a psicóloga da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Yane Ferreira, a campanha deve ser continuada e não restringir-se a apenas um mês no ano. “É uma iniciativa muito válida, mas que não deve ficar só no mês de setembro, precisa ter continuidade. É algo que a gente precisa lembrar no mês de setembro de forma mais enfática, mas no restante do ano a gente precisa promover ações, principalmente de prevenção”.
O suicídio é um acontecimento complexo. Inúmeros são os fatores que levam um indivíduo a pensar ou cometer suicídio. Além da depressão, que é muitas vezes associada às tentativas de suicídio e aos suicídios consumados, existem outros transtornos que podem estar associados as tentativas de suicídio, como: bipolaridade, o transtorno de borderline e a esquizofrenia. “São transtornos tratáveis. Alguns desses transtornos não tem até o momento uma cura, mas têm um controle e a pessoa pode viver bem, trabalhar, ter sua família”, explica Yane.
Geralmente, o indivíduo dá sinais de que não está bem, e muitas das vezes passam despercebidos aos olhos da sociedade. A psicóloga da UFCA explica que, frequentemente, é possível perceber no discurso do sujeito a expressão de sentimentos como desesperança, isolamento e a sensação de insolvência dos problemas.
Escute quem precisa falar – Segundo especialistas da área, muitas vezes a pessoa se afasta, não se sente compreendida e vai se afasta das pessoas que tentam ajudar. Estes são os casos mais complicados, a pessoa simplesmente tenta o suicídio antes ter pedido ajuda. Isso ocorre porque nesses casos nem um profissional nem a família consegue intervir. Estando sozinha e sem a interferência de ninguém, a pessoa começa a desenvolver pensamentos suicidas e, por vezes, tende a consumar o ato.
Cenário Universitário
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Essa faixa etária coincide com aquela na qual os jovens entram na universidade. Nesta fase, o sujeito se depara com novas responsabilidades. “A própria adolescência tem aquele caráter de alto autoafirmação e mudança, de tentar se definir, de saber quem você é, do que a sociedade espera de você. E aí o universitário tem a pressão acadêmica, ele trabalha muito sobre questões que vão proporcionar o aprendizado e o desenvolvimento dele, mas que também mexe com os seus valores, os conceitos que ele carrega, e muitas vezes para você ter esse desenvolvimento você precisa passar por uma transição muito grande. Precisa construir novos conceitos, opiniões e tudo isso afeta na segurança, na autoimagem, na nossa forma de se ver no mundo”, explica a psicóloga.
Outro aspecto importante a ser observado entre os estudantes é a vulnerabilidade do universitário, que neste período de mudanças e descobrimentos não tem a atenção e o acompanhamento necessário. “Muitas vezes a pessoa com ideação suicida tem uma baixa percepção do apoio social, familiar e entre os pares. Nem sempre as pessoas estão preparadas para oferecer esse apoio, é um fator importante e que a gente chamamos de coping. Ás vezes o estudante entra na universidade e ele rompe se distancia de fatores que eram protetores como vínculos comunitários, familiares, os amigos do ensino médio, as pessoas que ele conviveu por um logo período de tempo”, diz Yane Ferreira
Um grande número de estudantes sai de suas cidades por conta da universidade. Essa nova realidade traz desafios. É notório observar fortes alterações em relação ao sono e alimentação associadas às preocupações com futuro profissional, mercado de trabalho e família. Todos esses questionamentos e pressões sofridas acarretam um aumento no nível de estresse, levando por vezes a complicações maiores.
Todas essas questões, além do convívio com o estresse e com a ansiedade, que são muito frequentes, podem deixar o estudante em um quadro mais vulnerável. Algumas dessas ocorrências devem-se à cobrança feita pelo próprio estudante e do ambiente a sua volta. Para Yanne, “o envolvimento com as atividades acadêmicas, o tempo que a pessoa passa na universidade afeta muito a realização de exercícios físicos, como a práticas de esporte, do desenvolvimento e das atividades de lazer”.
O estudante acaba se culpando por estar usando o tempo livre para outra atividade que não seja de caráter acadêmico, o que pode gerar uma sobrecarga. “Ele precisaria ter um tempo de descanso, um intervalo para que ele possa neutralizar e digerir situações que sejam mais desafiadoras. A gente não pode só trabalhar a mente e esquecer que tem um organismo. Mente e corpo funcionam de uma maneira totalmente articulada. Esse cuidar do corpo, da nossa saúde, com as relações contribuem completamente com a melhoria da aprendizagem e do rendimento acadêmico.”, completou a psicóloga.
II Fórum de Saúde Mental
Entre os dias 12 e 27 de setembro, a Universidade Federal do Cariri sedia o II Fórum Itinerante de Saúde Mental no Ensino Superior. O Fórum trabalha em um viés preventivo e de promoção de saúde e têm atividades em todos os campi.