Por Joedson Kelvin
O que é visível para nós na Universidade? Esta inquietante reflexão nos convida a voltar o olhar para nossa programada rotina diária. Banalizado, ainda prendido em círculos estruturais e hierárquicos de convívio, assim é o ambiente universitário. Com quem nos relacionamos na universidade? Para quem destinamos os nossos cumprimentos diários?
Conceitualmente, a universidade é o lugar criado para promoção de conhecimento e da formação profissional e científica dentro de uma sociedade. O que ainda é incipiente, porém, é a construção, nos sujeitos que compõem a comunidade acadêmica, de formas empáticas e respeitosas de contato entre si. Menciona-se, de agora em diante, o convívio entre todos e todas aqueles e aquelas que compartilham o espaço físico e funcional da universidade, independente da classe social, faixa etária ou formação profissional. Certamente todos nós já ouvimos aquele ditado popular que diz: “não adianta ter mestrado e doutorado e não cumprimentar o porteiro”.
Vale lembrar que para se colocar como indivíduo detentor da consciência de igualdade perante aos outros que convivem em uma mesma sociedade, não é necessária formação específica ou ser profissionalmente bem-sucedido. A educação e o respeito para com o outro deve vir como essência daquilo que construímos dentro de nós.
As diferenças entre classes sociais não podem, e nunca puderam ser, a única régua com a qual se mede a superioridade ou inferioridade humana. Nós damos aquilo que somos e seremos resultado daquilo que recebemos. Sem esquecer que cada ser humano carrega dentro de si suas dores, os seus conflitos internos, as suas vidas além das obrigações exteriores que devem ser cumpridas para e com a sociedade, o modo como o outro é visto e tratado determina a sua afirmação enquanto ser humano no mundo.
Para além de uma formação direcionada à boa atuação profissional, colocar-se como igual perante o outro, no que diz respeito à posição humana, é algo que não cabe em nenhum tipo de currículo, mas vai muito além de qualquer um. A nossa atenção e compreensão de que o outro – além das funcionalidades – é parte de nós é essencial para o entendimento de qual ser social e de qual mundo queremos construir.
Ao fim desta leitura, voltemos os nossos olhares para aquelas e aqueles que, cotidianamente, se apresentam como personagens banais da nossa rotina: àqueles a quem não é atribuída tanta importância, àqueles cumpridores de obrigações laborais por estarem simplesmente recebendo (financeiramente) aquilo que é proporcional – ou não – às funções que desempenham.
Dada a reflexão, coloquemos como ponto de partida a Universidade, visto que ela é, primordialmente, um meio de formação social. Não é para a sociedade que nos comprometemos quando nos formamos? Não é para a sociedade que nós devemos contribuir? Por que não iniciar práticas mais humanas dentro da universidade? Que tal cumprimentar quem deixa os jardins belos e os espaços limpos, quem se dedica a te alimentar, quem serve tua comida diariamente? Que tal olhar nos olhos de quem você irá pedir o seu salgado na cantina e, em vez de ordenar a comida, praticar o ato humano e saudável de cumprimentar, de dar um “bom dia!” ou de procurar saber o nome de quem te atende? Um ambiente mais humano e cordial depende destas práticas interativas, da percepção do outro como igual, como alguém que passa por experiências de vida como você. O meio social é feito majoritariamente de humanos, então, qual dose de humanidade você pretende tomar? A dica é que nos embebedamos e fiquemos sóbrios o suficiente para nos enxergar como um só.