Por Luana Torres
No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o mundo estava sob pandemia causada pelo novo Coronavírus. Após um ano do anúncio, o nosso cotidiano passou por diversas mudanças e tivemos que nos adaptar a um “novo” normal. Atividades que antes eram consideradas simples e corriqueiras tiveram que se transformar para se encaixar na nova realidade. A educação foi um setor que sofreu bastante impacto, e colocou alunos e professores diante de um novo estilo de ensino.
A inviabilidade de aulas presenciais devido às medidas de isolamento fez com que diversas instituições investissem no ensino remoto para diminuir os impactos negativos no processo de aprendizagem. Em teoria seguiria um formato parecido com as aulas presenciais, com o mesmo horário de aulas, encontros síncronos etc. Mas, como em toda fase de adaptação, ocorreram empecilhos e dificuldades para a realização das atividades remotas. Alguns alunos da Universidade Federal do Cariri (UFCA) foram ouvidos para relatar como estão sendo suas experiências com esse novo modelo de ensino.
Keliane Nunes, aluna do terceiro semestre de Biblioteconomia, diz que tem dificuldade em encontrar uma rotina de estudos e conciliar suas atividades acadêmicas com seu trabalho. Ela conta também que sente falta da presença do professor para auxiliar em sua aprendizagem, pois para ela presencialmente era mais fácil tirar dúvidas.
Rodolfo Andrade, do quinto semestre de Jornalismo, também foi ouvido e falou que o cansaço visual é seu maior problema: “ficar no computador assistindo aula é muito cansativo, principalmente à noite. Eu já passo o dia inteiro no computador fazendo as coisas da faculdade, fazendo trabalhos “freelancer” quando tem algum. E é muito cansativo, às vezes as aulas vão até 22 horas, alguns dias passa disso“. O excesso de tempo em frente a tela do computador também foi citado pelo estudante Benjamin Nascimento, do quinto semestre de Design: “acho que o tempo excessivo em frente a tela do computador é muito prejudicial. Tento me desligar um pouco, mas com as aulas e atividades se torna algo díficil”.
Outra dificuldade levantada pelos estudantes foram os problemas com a internet e equipamentos eletrônicos. Keliane conta que durante o semestre especial ela sofreu bastante com falhas na conexão de rede: “cheguei a passar duas semanas sem Internet, ou seja, foram duas semanas sem assistir aula. Sem contar que algumas vezes a conexão caía durante a aula”. Em períodos chuvosos, a conexão de internet se torna instável, ocasionando para os alunos uma série de complicações na hora de assistir às aulas ao vivo. Esse problema não está restrito apenas aos alunos, os professores também passam por aborrecimentos enquanto ministram suas aulas.
No entanto, o ensino remoto não se resume apenas a problemas. Ele possibilitou que os alunos que moram longe dos grandes centros da região do Cariri a se matricularem em disciplinas optativas, pois antes era muito difícil ir para a UFCA no contraturno, seja por motivos de trabalho, alto custo com passagens e o cansaço excessivo. Keliane, que mora na zona rural do Crato, diz que: “o ensino remoto me ajudou muito nessa questão, serviu até como um empurrão para cursar as optativas. Até o semestre especial eu não tinha feito nenhuma, porque era no contraturno e ficava muito difícil pra mim”. Rodolfo também fala que esse novo modelo de ensino o ajudou: “nossa, me ajudou demais. Eu gastava 20 reais pra ir a UFCA fazer uma optativa. Era muito difícil, tanto que eu só tinha conseguido fazer uma, agora eu já tô conseguindo fazer”.
Os alunos entrevistados foram perguntados sobre possíveis mudanças a serem adotadas buscando melhorias no ensino remoto. Suas respostas foram: melhor relação entre professores e alunos, pois muitas vezes a comunicação apenas por meio de e-mails não é eficiente. Talvez a adoção de grupos em redes sociais ajudaria na comunicação. Também foi citado que a diminuição das cargas de leituras e atividades tornaria a experiência menos cansativa. Os estudantes também ressaltaram que como todos encontram-se em uma situação nova, os professores também estão passando por adaptações e que o diálogo é um bom caminho para encontrar soluções para as dificuldades existentes.
Para os professores o desafio também é grande, pois eles precisam encontrar maneiras para ensinar sem que os estudantes saiam prejudicados. Elane Abreu, professora do curso de Jornalismo, aponta que “tem sido desafiante esse formato, percebo a dificuldade de separar a casa do trabalho. Às vezes parece que a sala de aula virou uma extensão da casa”. Ela fala também que sentiu uma diminuição considerável da sua produtividade “confesso que minha produtividade caiu muito, às vezes me planejo para escrever alguma coisa, mas acabo não conseguindo”. Elane frisa que neste momento é necessário um mínimo de organização dos professores para que o ensino remoto aconteça. Além disso, a professora fala que nessa nova realidade tenta investir em atividades que não são síncronas e que as plataformas digitais ajudam os alunos a exercer a apuração sem se colocar em risco.
A UFCA tem buscado ajudar seus estudantes nesse período de aulas remotas, como por exemplo por meio de editais, como o auxílio digital que ajuda os estudantes na compra de computadores portáteis e serviços de banda larga/internet. A UFCA também fornece um acompanhamento pedagógico que auxilia os alunos com seus horários de estudos. Porém, mesmo com todos os esforços, a Universidade infelizmente não consegue cobrir todos os alunos e suas necessidades.
A pandemia colocou a todos em uma situação nova. Nos tirando de uma zona de conforto que há muito tempo estávamos, esse período de ensino remoto é uma novidade para todos, o que leva a um estranhamento e dificuldades. Em um período de experimentação, é vital que o diálogo prevaleça, em busca de maneiras e ações práticas para viabilizar um ensino de qualidade para os estudantes.