• Pequenos agricultores do Cariri temem queda na produção e aumento de preços de alimentos devido à escassez de chuvas

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21 de março de 2024 por 

Por Ana Jáfya Apolinário, Clara Tavares e Evelyn Alencar

A escassez de chuvas no Ceará no primeiro trimestre de 2024 vem preocupando pequenos agricultores e criadores da região do Cariri. A falta de chuva impacta diversas etapas da produção local de alimentos. Com menos grãos, os preços da ração que alimenta os animais aumentam, e o custo chega até o consumidor final.  Um relatório da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME) comprova que o Estado enfrentou diminuição de chuvas no primeiro trimestre de 2024. O relatório prevê que o Estado tem 45% de chances de chuvas abaixo da média.

A agricultura familiar é o principal responsável pela produção de alimentos disponibilizados para consumo, segundo o último censo Agro do IBGE disponível (2017), 75,5% dos estabelecimentos agrícolas do Ceará foram classificados como de agricultura familiar, os quais respondem por 39,6% do valor total da produção agropecuária do Estado. 

Os dados apresentam alerta de consequências negativas para a agricultura, reservas hídricas e ecossistema local, isso significa que haverá uma diminuição na quantidade de chuvas nos três primeiros meses do ano: Janeiro, Fevereiro e Março. Além do menor volume de chuvas, também é previsto uma menor estação chuvosa. Na apresentação dos resultados de dados levantados, o presidente da FUNCEME, Eduardo Sávio Martins, ressaltou na reunião que o mais preocupante do cenário atual é exatamente o que o sistema de previsão está indicando para o fim do período chuvoso: uma estação chuvosa mais curta, um mês de abril já com chuvas comprometidas e um mês de março já com resultados negativos. No evento também esteve presente a vice-governadora do Ceará, Jade Romero,  declarando que o governador irá fazer um anúncio na qual pretende por meio de um plano reduzir os impactos da seca.

Mayra Pinheiro, professora do curso de geografia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), relatou em entrevista que com o passar dos anos as chuvas vão ficando cada vez mais irregulares, e a maior preocupação se fundamenta pelo fato da base econômica regional ser a agricultura familiar. “Sem chuvas, sem alimentos, e como consequência aumento do valor dos produtos, gerando desigualdade”, explica a docente.

O agricultor autônomo Gilmar Saraiva de Sá, residente na cidade de Crato, conta que a escassez de chuvas na região impacta não apenas a agricultura, mas também o comércio local. Ele destacou que a ausência de chuvas afeta principalmente os criadores, pois a falta de milho compromete a alimentação dos animais, resultando em uma diminuição na produção e no aumento dos preços no comércio. Além disso, a escassez de milho e soja também prejudica os produtores de leite, já que os custos com ração aumentam, elevando os preços do leite. Isso, por sua vez, reduz a produção, uma vez que os agricultores têm dificuldades para alimentar seus animais adequadamente. Como resultado, o preço do leite continua a subir, perpetuando um ciclo de dificuldades para os produtores e consumidores.

Gilmar Saraiva explica como a falta de chuva afeta seu trabalho e impacta no preço dos alimentos produzidos

A crise hídrica já era algo esperado pelo governo do Ceará. Em novembro (28) de 2023, o governador Elmano de Freitas realizou no Palácio da Abolição uma reunião conjunta com diversos órgãos do estado, no evento realizado, as questões debatidas foram sobre a urgência da elaboração de planos e de ações para as contingências para os impactos do El Niño no ano de 2024. 

El Niño e La Niña afetam condições climáticas 

El Niño e La Niña são fenômenos que impactam diretamente na diversidade climática, é o que explica o professor de Geografia Ronilson Fernandes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. “Em linhas gerais o El Niño é um fenômeno de aquecimento das águas oceânicas no Pacífico, fazendo com que as águas oceânicas no atlântico, lado oposto da América, esfriem e gerem uma menor evaporação e influi diretamente na circulação atmosférica”, explica.

Por sua vez, o La Niña é o fenômeno contrário, que causa um aquecimento no Atlântico, fazendo com que as chuvas aumentem nas regiões norte e nordeste do Brasil. Esses dois fenômenos são cíclicos, há a sequência de vários anos de predominância do El Niño e em seguida alguns anos de predominância do La Niña, por isso que muitas vezes não são previsíveis”.

O professor Ronilson Fernandes detalha como os fenômenos El Niño e La Niña podem ocasionar períodos de seca e estiagem no sertão

Até o momento a FUNCEME ainda não declarou publicamente nenhuma medida escolhida ou tomada pelo Governo cearense em relação a essas futuras situações envolvendo os alertas climáticos citados acima, a população cearense aguarda medidas e notícias futuras.

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